O que aprendi criando um Pedal de Guitarra durante essa Quarentena — Parte Final
Ao fim dessa jornada de imersão em um campo completamente novo de conhecimento, dois sentimentos ficaram bem evidentes pra mim:
1 — Frustração por não conseguir fazer um bom acabamento final do projeto.
2 — Alívio por ter conseguido cumprir meu objetivo.
Neste último artigo, que vai ter uma quantidade maior de imagens, irei descrever o calvário de finalizar meu pedal Fuzz.
Montagem do PCB
Aprender como os jacks e componentes básicos funcionam foi desafiador, incrementar o projeto com led e push button foi divertido. Porém, colocar todo esse conhecimento em uma caixinha foi muito penoso.
Conforme mostrado pelo Iberé e pelo Marlon Nardi há diversas maneiras de forjar circuitos impressos em casa. Desde as mais simples (com caneta de marcar cd’s e percloreto de ferro) a outras super profissionais (com luz ultravioleta e outros componentes químicos). Escolhi a mais simples e obviamente, mais barata.
O primeiro passo foi desenhar o circuito que estava na protoboard num papel para servir de referência.
Colado o desenho na placa de cobre, fiz os furos nos lugares onde os componentes receberiam solda e depois fiz o desenho do circuito com a caneta marcadora.
Apos a corrosão, numa solução de percloreto de ferro, o circuito ficou dessa forma abaixo:
E após retirar a tinta de caneta com bombril temos o seguinte circuito:
Você deve estar se perguntando: Qual o motivo de fazer um circuito tão grande?
Tecnicamente, fazer trilhas finas e precisas com essa técnica da Caneta não é muito fácil. Então, o projeto perdeu praticidade mas ganhou confiabilidade.
Colocação do PCB na Placa
Agora veio a parte mais complicada: colocar os componentes já soldados no pcb dentro da caixa hermética. E que infelizmente, foi a mais frustrante.
Apesar da placa de circuito impresso ter ficado do tamanho certo, não levei em conta o espaço ocupado pelos jacks e então os componentes ficaram muito embolados.
E apesar do sistema funcionar bem, aconteciam algumas falhas e ruídos indesejáveis quando eu plugava no contrabaixo. Neste video abaixo eu mostro que o projeto, quase deu certo, com acabamento bem bacana.
Resumindo bem: não consegui fazer o circuito funcionar numa caixa hermética simples.
Solução Final
Neste momento da jornada, cheguei em uma encruzilhada incômoda:
1 — Desisto desse projeto de pcb, jogo fora tudo que foi feito e tento fazer uma placa menor pra caber na caixa hermética?
2 — Tento procurar uma caixa um pouco maior?
No final das contas, testei as duas ações. E tive mais sucesso na segunda (apesar de estéticamente ter ficado bem tosco, como vocês irão ver abaixo).
Primeiramente tentei criar um circuito responsável apenas pelo push button e pelo led e outro apenas pros demais componentes.
Apesar dos circuitos terem ficado relativamente funcionais, também não tive sucesso em colocá-los todos juntos na caixa. Após 3 tentativas de criar layout’s de pcb separados, paciência no limite e muitas manchas de percloreto nas roupas, decidi que essa escolha estava esgotada.
Quando já estava quase desistindo (morrendo na praia) parti para a solução mais radical de todas: juntar com cola e palitos as duas caixas herméticas que havia comprado em uma só. E aí sim, abrigar placa de circuito impresso com folgas.
E voilá: o pedal DIY mais feio e tosco que você já viu na vida.
Conclusão
Ainda não sei se vou fazer uma versão mais sofisticada deste projeto. Mas por hora, já para fazer um balanço e justificar o título do artigo: O que aprendi nesses 3 meses de experimentação?
Pontos negativos:
1 — Financeiramente, o resultado foi um desastre. A quantidade de material que eu precisei comprar para esse primeiro Bass Fuzz e que foi jogada fora daria facilmente para comprar um genérico no Mercado Livre. Se for computar direitinho, acho que daria até para comprar um profissional.
2 — Em alguns momentos, me senti repetindo a mim mesmo. Sensação que grandes mentes já descreveram como péssima.
3 — Esse processo era para ser uma distração, mas começou a me trazer um pouco de ansiedade. As lojas de eletrônica de BH estavam fechadas durante a quarentena, então a cada nova necessidade (broca para furar circuito impresso, broca para caixa hermética, percloreto de ferro, resistor de 10k…) somavam-se dias de espera para os produtos serem entregues em minha casa.
4 — Duas coisas que gostaria de ter aprendido nesse processo, ainda não estão tão claras para mim: como desenhar pcb’s e ler diagramas elétricos com mais facilidade.
Em resumo, a maioria dos pontos negativos ficaram concentrados na última etapa. Caso eu resolva prosseguir nesse hobby, essa é a parte onde vou precisar de mais investimento.
Pontos positivos
As vantagens dessa imersão são bem pessoais e difíceis de mensurar. Talvez só no futuro, relendo esse artigo eu consiga entender se foi uma boa ou não ter passado por isso. Porém, acho que vale a pena elencar alguns tópicos:
1 — Já me sinto seguro para partir para projetos mais audaciosos (delay, distortion e quem sabe até tentar novamente o PedalShield da ElectroSmash.
2 — Descobri uma forma excelente de entender como componentes de eletrônica analógica (capacitores, indutores, resistores, transistores, circuitos integrados…) funcionam. Sem falar na pancada de referências legais que coletei.
3 — Apesar de existirem mestres brasileiros dessa arte como o Junior Rosetti, o assunto modificação/clonagem de pedais é um pouco de nicho no Brasil. Então, tive que consultar muita fonte gringa para entender por exemplo como diodos de germânio ou de silicone influenciam no clipping de uma distorção, a história de alguns efeitos de guitarra clássicos e até mesmo encontrar sites que fornecem kits super legais de Pedais DIY.
4 — Nada descreve a sensação de começar e terminar um projeto pessoal. Desde 2016, venho me arriscando no mundo Maker e essa é a primeira vez que sinto ter conseguido fazer algo realmente funcional e atemporal.
E por fim o maior de todos os beneficios de tudo isso: voltei a me apaixonar por música, mesmo sem ter tocado uma nota sequer. E isso não tem preço.
Espero que esse artigo tenha sido útil para você e caso tenha interesse nesse tipo de experiência, não tenha vergonha de entrar em contato.
Um abraço.